quarta-feira, setembro 19, 2007

Uma viagem mais que poética na capital do agreste.


(Poeta Honório no Museu do Cordel, recepcionado por Olegário Filho)
Foto Cida França(Setembro/07)


Tarde desta terça de setembro. Volto ao país Caruaru onde estive pela última vez por ocasião da posse da primeira diretoria da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel-ABLC, coisa que se deu há dois anos, em maio/2005, um mês após a criação da União dos Cordelistas de Pernambuco-Unicordel. Nesse dia, por conta do trabalho, eu cheguei correndo e saí voando, não dando tempo de interagir com o povo do cordel que estava presente.
Fiquei me devendo esta durante todo esse tempo. Hoje deixei de ser inadimplente comigo de maneira muito especial, me pagando com juros, correção monetária e até CPMF. Aproveitando umas curtas férias, fiz a premeditada viagem que teve resultado bem melhor que o esperado, embora um dos objetivos não tenha sido alcançado: comprar um chapéu (de massa ou panamá). Mas isso é de somenos importância, tarefa boba e adiável.

Primeira missão era localizar e visitar o Museu do Cordel, fruto do idealismo de Lídio Cavalcanti e do saudoso cordelista Olegário Fernandes. Que ficava no Parque 18 de Maio eu já sabia, mas o desafio era como achá-lo entre aquela infinita quantidade de boxes e barracas vendendo “de tudo que há no mundo” e mais algumas coisinhas que Onildo Almeida acrescentaria hoje nesses tempos de China e Paraguai. Cruzei a ponte, dirigi-me logo para a área de artesanato e pedi informação ao primeiro vendedor que avistei. Batata! O atencioso senhor deu indicações precisas e, com poucos passos de volta em direção à estátua de pedra de Vitalino, e daí, descendo à direita no rumo da feira de queijo e driblando o labirinto de roupas e artigos importados, cheguei sem dificuldade ao ambiente modesto e mágico do museu tão carinhosamente zelado por Olegarinho (Olegário Filho). Vi folhetos antigos, comprei clássicos e lançamentos, travei uma prosa agradável e esclarecedora, tratei de negócios e até tirei foto (essas aí), não sei se como turista ou como pesquisador.

De lá, no rumo da Caroá (antiga fábrica de sisal e hoje espaço cultural e Museu do Barro), referência para localizar a casa do agora septuagenário Dila (melhor forma de identificá-lo diante dos infindos e intercambiáveis nomes a si próprio atribuídos), este grande mestre da xilogravura e ícone do cordel. Chegando lá, encontrei-o na calçada com sua esposa, pois acabara de se despedir de Hérlon Cavalcanti, autor do livro Xilogravuras do Mestre Dila - Uma visão poética do Nordeste, que será festivamente lançado neste domingo, dia 27-09, a partir das 14h30min no Museu do Barro de Caruaru, com muita poesia, música e canto. Apresentei-me e à minha companheira, e após os costumeiros cumprimentos, fomos convidados a subir os íngremes degraus que levam ao seu sótão-estúdio, e assim, adentrar no mundo fantástico do poeta dos cangaceiros imortais, fazendo-nos viajar com suas histórias e causos espetaculares.

Perguntou-me logo se eu conheci o Professor Roberto Benjamin, no que afirmei que sim, acrescentando ter mais contato com seu fiel escudeiro José Fernandes. A conversar correu solta sobre os imorredouros representantes da família Ferreira, sobre figuras da nossa História, como Lampião, Tenente Bezerra, Tenório Cavalcante, Padre Cícero, Severo Gomes, Cordeiro de Farias, Garrastasu Médici, João Figueiredo, Antônio Silvino, e tantos outros. Mostrou-me “sua” foto em trajes de couro e do “tempo” de andanças e combates, “confirmados” pela cicatriz de bala na perna. Comprei alguns folhetos seus para minha coleção e ganhei o dobro de presente. E olhe que o aniversariante era ele, que completara setenta anos de vida no dia anterior (17/09).

Mas da noite veio-nos o prenúncio da chegada e tive que anunciar nossa partida, não sem antes lhe dar um apertado abraço de parabéns pelo aniversário, desejando-lhe muita saúde e inspiração.

Pena ter que pegar a estrada de volta ao Recife naquela hora. Pena não ter chegado mais cedo e me deleitar com a prosa boa de figura humana tão rara e artista de tão prodigiosa criatividade. Despedi-me inúmeras vezes e entre uma despedida e outra, ainda ouvi sobre José Pacheco, José Soares e descobri que houve um repentista chamado José Honório, citado por Athayde. Mandou um abraço pro Doutor Roberto, para Marcelo Soares e para meus companheiros poetas da Unicordel. Finalmente consigo entrar no carro e dizer até a próxima com um aceno de mão, e assim, volto ao Recife com meu ânimo renovado e mais confiante ainda na força da poesia.


Salve Olegário Fernandes, Lídio Cavalcanti e Olegário Filho!
Salve o Museu do Cordel!
Salve Dila e sua legião de heterônimos!
Salve todos os poetas de todas as vertentes!
Salve os “doidos” que acreditam na força da imaginação e fazem com que a vida tenha mais graça e poesia.

2 comentários:

zoraia disse...

Por falar em viagem, to achando q isso aki num eh bem um Blog, mas sim um portal pra outras dimensoes.(rss)
A gente não acessa, recebe uma passagem pra um mundo do jeito que gostariamos que o mundo fosse: leve, lindo, sonoro, melódico, lúdico, alegre....E o melhor eh q nem o aviao cai e nem o voo atrasa!
O poeta não viaja sozinho, genorosamente leva aqueles q resolvem usar bem o tempo e ler suas bem tracadas linhas.
Tenho aprendido muito, recebido inspiração pra ler mais sobre a cultura popular e ficado feliz!
Valeu! :c)

Anônimo disse...

Esse seu blog é bastante recheado parece um jornal cultural rsrsrrs, muito legal