quarta-feira, maio 24, 2006

Primeiro folheto: Homenagem de um folião ao maior carnaval do mundo

Este folheto é filho do casamento de duas das minhas maiores paixões: o carnaval do recifense e a poesia popular. Foi escrito em 1984 , fruto da convivência com o pessoal do Balé Popular do Recife e com a turma de poetas e admiradores da poesia que naquela época frequentava a Praça do Sebo, mais especificamente no box de Pedro Américo, grande incentivador dos meus delitos poéticos (até hoje). Minha frustração é que até hoje não encontrei ninguém que tenha aprendido um PASSO sequer a partir dessas explicações poéticas. De qualquer forma, acho que a tentativa foi válida.

RECIFE-CARNAVAL, FREVO E PASSO

Eis o primeiro trabalho
deste pretenso poeta
que se julga imaturo
mas com a sua musa inquieta
desejando aprimorar-se
para perseguir sua meta.

Feita a apresentação
do trabalho inicial
vamos conhecer um pouco
deste nosso carnaval
e depois cair no frevo
sempre que der para tal.

Povo de todo lugar
de toda classe ou toda cor
ao escutar os acordes
seja de que frevo for
se embala na frevança
ao frevo dá seu valor.

Igualmente a uma pluma
assim o passista dança
seu reinado é a folia
a alegria, sua festança
o corpo seu instrumento
que na "frevura" se lança.

Com movimentos sutis
ele segura a sombrinha
dançando bem à vontade
dá um Vôo-de-andorinha
depois faz evolução
com um Passeio-na-Pracinha.

O Banho-de-Mar,o Martelo
A Ligadura ou Patinho
O Ferrolho, a Dobradiça
O Girassol e o Barquinho
o passista quando é bom
não sua seu colarinho.

Com os seus passos seguros
Carrossel, Locomotiva
Pernada, Saci, Rojão
numa dança tão ativa
já é quase centenária
mas cada vez tá mais viva.

A Tesoura, o Abre-alas
a Tramela, o Saca-rolha
o passista é tão leve
parece até uma folha
quer se alongue na tramela
ou noutro passo se encolha.

Verdadeiros criadores
de uma dança tão bela
se perdem na omissão
de suas vidas singelas
dançar é a terapia
pra ocultar as mazelas.

Santo Antônio e São José
locais que são os cenários
onde o povo se alucina
em mundos imaginários
de cores, sons, alegria
luzes e encantos vários.

Tem Pierrô, Colombina
tem Pirata e Arlequim
tem o árabe, e o palhaço,
papangu e mandarim,
paetês, miçangas, plumas
lantejoulas e cetim.

Confetes banham os astros
do planisfério momesco
em três dias de alegria
de aspecto pitoresco
não existe rico ou pobre
apenas carnavalesco.

Nos Batutas, nos Donzelos,
no Galo-da-Madrugada,
Lenhadores e Madeira
Banhistas e Pás Douradas
Vassourinhas altaneiro
tem sua glória forjada.

Tem troças, blocos e clubes
a formar um só cordão
arrastando pelas ruas
uma imensa multidão
faz correr em sangue novo
os fluidos da tradição.

Tem o Boi e a La Ursa
caboclinhos, maracatu
as almas e as caveiras
o travesti, papangu,
a gelada e a batida
de cajá, coco e caju.

Morenas de Afogados
ou lá de Casa Amarela
se feias ficam bonitas
quando estão na passarela
brilhando num luxo falso
igualmente a Cinderela.

Fiz a apresentação
dos componentes reais
presentes todos os anos
nesses nossos carnavais
saber assim não tem graça
ver ao vivo encanta mais.

Não é preciso convite
nem também muito dinheiro
basta um short e uma blusa
e um sapato bem maneiro
se misture ao nosso povo
e caia no passo ligeiro.

Pra não ter decepção
treine uns passos de frevo
se acostume com o chão
conheça bem seu relevo
e para então lhe ajudar
alguns deles eu descrevo:

O Pontilhando é um passo
muito fácil de dançar
se apóie em uma perna
com a outra chute o ar
se apóie nesta agora
repita com a de lá.

Levantando a direita
pois de lado pise então
mas somente o calcanhar
é que vai tocar no chão
pise agora do outro lado
refazendo a mesma ação.

Este aqui é o Saci
e fazê-lo é um barato
apóie a perna na outra
dum quatro eis o retrato
mova prum lado e pro outro
complementando de fato.

Pra fazer o Girassol
não tem nenhum atropelo
os pés juntos, um virado
caindo no tornozelo
muda-se depois de base
desenrolando o novelo.

O Parafuso é um passo
do Girassol derivado
da mesma forma, porém
num giro bem compassado
agachando todo o corpo
de um modo ritmado.

Parafusando é o mesmo
que parafusar no chão
o corpo todo encolhido
um pé virado, outro não
o giro em um sentido
em contínua rotação.

Para aumentar o espaço
afastando a multidão
temos passos específicos
que são feitos de explosão
Pernadas e Abre-alas
como também o Rojão.

A Pernada é chutar alto
com lateral movimento
assim, alternadamente
fazendo o revezamento
o recuo é natural
no mesmo exato momento.

O Abre-Alas é assim:
as pernas meio afastadas
braços segurando escudos
em posições arqueadas
movendo-se para os lados
soltando cotoveladas.

Da base do Abre-Alas
iniciar um saci
fazer uma meia-volta
à base volta-se aí
o pé retorna ao chão
Voltar pela contra-mão
para o Rojão prosseguir.

O Passeio-na-Pracinha
é muito cheio de graça
com uma perna na frente
a mesma por trás repassa
a base foge pro lado
em curtos passos se enlaça.

O Passeio-com-Sombrinha
é fácil de executar
mas requer um treinamento
para não se machucar
curvar os pés para frente
alternando-os ao andar.

Fazer agora o Ferrolho
veja você como é
abrir as pernas pro lado
calcanhar, ponta-de-pé
depois trocar os apoios
num embalo da maré.

A partir do movimento
temos uma variante
é fazer com rapidez
num estilo eletrizante
Ferrolhando-se assim
nesse passo interessante.

A Dobradiça é assim:
pernas em semi-flexão
e como apoio nós temos
as pontas-de-pé no chão
mudar para o calcanhar
as pernas em extensão.

Posição acocorada
com o tronco bem ereto
com uns pulinhos se gira
em um sentido correto
mantendo seu equilíbrio
num Carrossel bem discreto.

Da base do Carrossel
dá-se um pulo ligeiro
em apoio de Ferrolho
retorna-se ao primeiro
agora pro outro lado
fez Tramela, companheiro.

Mas voltando à mesma base
eis um passo que cativa:
esticando-se das pernas
de maneira alternativa
se uma vai, outra vem
se faz a Locomotiva.

Perna atrás outra na frente
qual soldado de brinquedo
ponta-de-pé, calcanhar
calcanhar, costas-do-dedo
movimentos simultâneos
do Barquinho eis o enredo.

Tem um passo sensual
muito fácil de fazer
partindo da dobradiça
as duas pernas estender
joga o tronco a frente para
Chã-de-Barriguinha ter.

Com o mesmo movimento
sendo agora para trás
projetando-se a bunda
numa atitude fugaz
se quiser Chã-de-Bundinha
eis o jeito que se faz.

Estes passos derradeiros
poderão também ser feitos
movendo-se para os lados
em movimentos perfeitos
ficando assim mais charmosos
realçando seus efeitos.

Destes passos dei a dica
das etapas principais
mas pra pegar o molejo
é preciso um algo mais:
é olhar atentamente
o "dono dos carnavais".

Não se aprende só com aula
o frevo bom verdadeiro
é nas ruas de Olinda
e pelo Recife inteiro
por entre o povo suado
fazendo o passo rasgado
entrando no "formigueiro".

Mostrei aqui alguns passos
mas podem ser um milhão
depende de cada um
usar a imaginação
observando ao redor
que o frevo tá na amplidão.

Homenageio ao Egídio,
Coruja grande passista
e Nascimento do Passo
vem completar minha lista
representam com relevo
imagem real do frevo
onde quer que ele exista.

FIM

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