Este cordel foi escrito a partir de uma confidência que me foi feita por uma amiga com relação às peripécias que aprontou no tempo de sua mocidade. Na verdade o que aproveitei da história foi o cenário e a ação, construindo o enredo com a minha imaginação.
Sidrião e Maristela
Um casal recém casado
No fulgor da juventude
Cada qual mais empolgado
Procuravam o diferente
O ousado, o inusitado.
Dentro de casa não tinha
Mais lugar onde o casal
Já não tivesse explorado
Como cenário ideal
Para suas cenas tórridas
Cada qual mais radical.
Eis o motivo porque
Suas mentes criativas
Do lado externo das casas
Descobriram alternativas
De dar vazão aos desejos
De formas mais atrevidas.
Por isso quando um barulho
Lá no quintal foi ouvido
Por ser noite, Maristela
Foi junto com seu marido
Verificar o que diabo
Ali tinha acontecido.
Nada de errado viram
E por isso relaxaram
E sob um pé de goiaba
A lua cheia avistaram
E nesta contemplação
A mesma coisa pensaram.
Subiram na goiabeira
Sem qualquer dificuldade
Porque quando se é jovem
Tudo sempre é novidade
E o espírito de aventura
Promove a facilidade.
Procuraram entre os galhos
A posição ideal
E depois de acomodado
O criativo casal
Começou a brincadeira
No chamego trivial.
Goiabeira, todos sabem
Não tem copa tão frondosa
Se alguém passasse perto
Naquela hora ditosa
Haveria de flagrá-los
Nessa cena indecorosa.
Mas o breu que a noite trás
Camuflou a brincadeira
Ninguém ali percebeu
Essa dupla presepeira
Trepando de forma dupla
Nos galhos da goiabeira.
No momento mais febril
No furor da emoção
Agitaram-se os galhos
Parecendo um furacão
Caíram tantas goiabas
Que chega cobriu o chão.
Primeiro foram as maduras
Depois caíram as inchadas
E até goiabas verdes
Também foram derrubadas
Dando idéia do alvoroço
Das cenas ali passadas.
Ao cair batiam neles
Pensa que se importaram?
Quanto mais frutos caíam
Mas eles se alvoroçaram
Até quando foi a hora
Que eles se acalmaram.
Tem coisa que acontece
E não tem explicação
Não é que uma goiaba
Ao cair não foi ao chão
Caiu no cofre dos peitos
Mas ela não deu fé não!
Desceu do pé de goiaba
O casal bem satisfeito
E no livro de aventuras
Escreveu mais este feito
Foi aí que Maristela
Viu a goiaba no peito.
Ela pegou a goiaba
E disse: - eu vou guardar
Como lembrança de hoje
E queira se controlar
Não toque nesta goiaba
Se não quiser apanhar.
E assim foram pra casa
Pro descanso merecido
Ela deitou-se primeiro
Não esperou o marido
Foi dormir bem satisfeita
Com o que tinham vivido.
Ele ficou por ali
Qual menino atrás de trela
Com pouco mais ... quem acorda?
Sua mulher, Maristela
Com o danado querendo
Comer a goiaba dela.
Maristela deu uma popa
Que o chão estremeceu
- Não vou dar minha goiaba
e você me prometeu
que a deixaria em paz
será que já se esqueceu?
Se eu lhe der minha goiaba
Sei que vai ser uma dor
Ela é muito especial
Tem importante valor
Por isso pode tirar
Cavalo da chuva, amor.
Por que não come outra coisa
Eu faço com todo gosto
Ele gritou: - Eu não quero!
Com sangue corando o rosto
Eu quero é sua goiaba
Não me dê esse desgosto.
Maristela, que besteira
Me dá logo essa goiaba
Vai terminar dando o bicho
Aí teu prazer de acaba
Ela disse um NÃO tão alto
Que quase a casa desaba.
Ela foi firme e não deu
Sua goiaba ao marido
Ele achou uma desfeita
Um capricho sem sentido
E desse dia em diante
Foi ficando aborrecido.
Com o tempo a tal goiaba
É claro que se estragou
Sidrião tomou abuso
A mulher abandonou
por causa duma goiaba
O casal se separou.
Esse aqui é um exemplo
Cabal de que arrogância
O desrespeito ao semelhante
O orgulho, e a ignorância
Roubam paz, causam conflitos
Viva, então, a tolerância!
FIM
sábado, junho 17, 2006
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